
"Fui na Bienal hoje. Tem um andar inteiro vazio. Parece comigo. Eu tenho um andar inteiro vazio. Os meus cinqüenta e oito andares estão vazios. Está tudo vazio.
Eu queria avisar as pessoas que eu era a melhor instalação da Bienal. Veio ver o vazio? Olhe pra mim. Não tenho nada dentro de mim. Nada. Não tenho vontade nenhuma de lutar por você, mas também não tenho vontade nenhuma de não lutar. Não espero nada, mas também não espero outra coisa nenhuma. Eu não tenho nada. Eu perambulo por aí, atendendo meus 78 mil amigos e odiando ver o nome de cada um deles no visor do meu celular. Todos divertidos, leves, incríveis, amigos. E eu cagando um mundo pra toda essa merda.
Aí na Bienal fiquei sabendo que uma professora enlouqueceu e jogou umas fotografias lá pra baixo. Ninguém entendeu nada. Mas eu acho que entendi. O vazio dá desespero, cara. Dá um desespero filho da puta.
Aquele tobogã da Bienal...que porra é aquela? Vontade de sentir alguma emoção. O vazio dá um desespero silencioso. É como se o tempo jogado no lixo batesse sutil, num relógio esquecido em algum canto do quarto, que você só descobre quando está muito de madrugada e ao longe você escuta aquele tic,tac,tic,tac. Um batida que quase não existe. Você não sabe se é o tempo sendo contado pra você ou o seu coração contando você pro tempo. Um desespero sem cara de desespero. Mas que é desespero puro. (...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário